Balanço da Faemg divulgado ontem refere-se somente ao período de janeiro a outubro; clima afetou o café
O agronegócio de Minas Gerais, apesar dos desafios, fecha mais um ano com resultados positivos. Ao longo de 2022, o setor, que enfrentou alta dos custos, ameaça de falta de fertilizantes e intempéries climáticas, conseguiu registrar novo recorde nas exportações. Somente entre janeiro e outubro, cresceram cerca de 49% e atingiram quase US$ 13 bilhões. Os dados são do Balanço 2022, divulgado ontem pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Em 2022, o Estado também foi responsável por uma produção de 16,73 milhões de toneladas de grãos – aumento de 9% frente à safra anterior. No café, um dos principais produtos do setor, o clima afetou a produção, que caiu 36,4%.
Em coletiva à imprensa, o presidente do Sistema Faemg, Antônio Pitangui de Salvo, ressaltou a importância do setor em produzir alimentos, contribuir para a segurança alimentar, abastecer o mercado interno e embarcar os produtos para mais de 150 países.
“Terminando o ano de 2022, mesmo com todas as dificuldades, tivemos mais um vez, um ano muito positivo para a agricultura e pecuária de Minas, principalmente, na parte primária. Vale ressaltar o crescimento das nossas exportações. De janeiro a outubro, frente ao mesmo período do ano passado, tivemos um crescimento de 49,2%”.
Somente as exportações do setor, nos primeiros 10 meses do ano, movimentaram US$ 12,9 bilhões, com o embarque de 11,8 milhões de toneladas de produtos agrícolas e pecuários para 172 países compradores.
“Quando exportamos, geramos superávit para Minas Gerais, trazendo dinheiro externo via produção primária para nossos municípios, nosso Estado. Estamos atendendo não só o Brasil, mas vários outros países. Isso é sinal de uma saúde muito boa do setor. Esse talvez seja o termômetro principal. Um setor que está em franco crescimento e esse grau significa que Minas se comportou muito bem neste segmento.
Dentre os produtos mais exportados, o destaque é o café, que representou 45,5% dos embarques do setor. Até outubro, foram US$ 5,6 bilhões movimentados com as exportações – alta de 63%. No complexo soja, as exportações movimentaram US$ 3,3 bilhões, com o embarque de 5,4 milhões de toneladas.
O café enfrentou um ano desafiador. Como no ano passado, as regiões produtoras foram afetadas pelo clima desfavorável, com registros de estiagens, geadas e granizo. Com isso, a produção mineira recuou expressivos 36,4% e encerrou a safra 2022 com 22 milhões de sacas.
Salvo explicou que os efeitos do clima também serão sentidos em 2023.
“A cafeicultura passou por momentos delicados em 2021 e também em 2022. Estamos esperando para 2023 alguns problemas pelo constante déficit hídrico existente no Sul de Minas, que é a principal região produtora, e também no Cerrado. As chuvas de granizo também afetaram o café. Tivemos prejuízos e a Faemg está atenta. É um setor que emprega muita mão de obra, principalmente no Sul e nas Matas de Minas. Então, sabemos que uma queda de produção pode gerar problemas também na empregabilidade”.
Leite
Outro setor que enfrentou desafios em 2022 foi a produção de leite. Os custos ficaram 75% maiores e os preços avançaram apenas cerca de 25%. O repasse das altas foi limitado devido à queda de renda dos consumidores. A falta de previsibilidade nos preços a serem recebidos pelos produtores é outro gargalo que precisa de solução.
“A produção de leite é um segmento complicado, que tem como principal desafio a falta de previsibilidade de preços. Por exemplo, o produtor entregou o leite de 1 a 30 de novembro, mas, ele só vai saber o preço lá pelo dia 20 a 25 de dezembro. Fica impossível fazer planejamentos”.
A Faemg, em busca de solução, está organizando o Conseleite, que reúne representantes do setor produtivo, faculdades e indústria.
“Estamos trabalhando para ter uma previsibilidade. Não vamos alterar o preço do leite para cima ou para baixo. Precisamos saber o preço do litro e acertar ao máximo essa previsibilidade, para que o produtor tenha condições de se organizar”.
Setor sucroenergético
O desempenho positivo do setor sucroenergético também foi destacado. Segundo Salvo, o segmento tem se posicionado de uma forma muito boa, destinando mais de 50% da cana para o açúcar e 47% para o etanol. A Faemg tem utilizado o biocombustível em parte da frota.
“O etanol é um combustível que estamos preconizando para o uso na Faemg. Diante de toda essa temática das mudanças climáticas esse setor, o Brasil e Minas têm se posicionado muito bem e, esse nosso combustível, é limpo e polui muito menos que os combustíveis fósseis”.
Expectativas para 2023
Depois dos bons resultados em 2022, as expectativas são positivas para o próximo ano. Mas, entre os desafios apresentados e que podem impactar os resultados, estão a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e o receio de uma recessão global.
“Acreditamos que o setor vai continuar crescendo. Vale lembrar que é muito difícil você fazer previsão em Minas, mas a gente espera que em 2023 seja ainda melhor. Resta saber como ficará a situação do mundo, temos a guerra, como vai se comportar a recessão americana, que parece que já virou a chave”, disse Salvo.
No que se refere à perspectiva política, o setor continuará trabalhando firme.
“Queremos continuar garantindo a segurança alimentar para os brasileiros, produzindo os mais diversos alimentos de forma sustentável e barata, dando acesso às populações mais pobres do Brasil e do mundo ao alimento. Se isso não acontecer, certamente, teremos um colapso no que diz respeito à alimentação do povo brasileiro e mundial. Isso não é bom para ninguém”.
Salvo defende ainda que o próximo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento seja alguém conhecedor dos pleitos do setor.
“Depois que nós tivemos um ministério com a Teresa Cristina – que é engenheira agrônoma, entendedora do assunto, sem muito estrelismo -, precisamos de alguém que também entenda da agricultura e da pecuária brasileira. Essa pessoa também precisa continuar entendendo a importância do agro para o Brasil e dando força ao ministério para que ele não seja considerado de segundo escalão como foi em outros governos”.
Fonte: NTC&Logística